Estudando a África
Nos dias atuais, com os
avanços nos parâmetros curriculares da educação brasileira, através da Lei11.645/08 que determina a inclusão das temáticas “História e Cultura
Afro-Brasileira e Indígena”, assistimos a indicação da necessidade da inclusão
de estudos sobre o continente africano desde a formação básica.
Não há dúvidas quanto à relevância desse passo para a
formação brasileira. Não é mais possível entender a África como um bloco, como
o continente negro, como um território de mazelas. A África é um mosaico que
reúne diversidades culturais, religiosas, étnicas e geográficas.
É necessário desalienar esta visão do senso comum de que
a África é um continente primitivo, atrasado. O etnocentrismo que influenciou
estas visões do mundo é o responsável pela construção da imagem pejorativa do continente
africano. A ignorância a cerca da diversidade africana reforça a noção
equivocada que foi divulgada por séculos.
A África reúne dentro de várias diversidades, diferentes
processos históricos, sociais e políticos que precisam se tornar conhecidos.
Com a chegada ou “invasão” européia, as experiências coloniais também foram
marcadas pela diversidade.
A desconstrução da imagem de um “maciço África” é
urgente. Esta urgência pode ser retratada por todos os esforços já
desempenhados pela produção histórica até os dias de hoje. O século XX foi
marcado pelo desenvolvimento da História da África que no Brasil ganha espaços
cada vez mais amplos nas escolas e universidades.
Nesta perspectiva, as publicações também se expandiram em
prol da transformação da visão deturpada do continente africano.
Existem várias formas para desenvolver o estudo da
África. Para um público infantil já estão no mercado gibis, historinhas em
quadrinhos com personagens africanos, como aquela divulgada na exposição do ano
de 2009, no Museu Afro Brasil em São Paulo, com trabalho de roteiristas e
desenhistas de 16 países africanos.
Os carnavais dos grêmios recreativos de escolas de samba
muito podem contribuir para a transformação da visão simplista e reducionista
da África. No Rio de Janeiro, diversos enredos de escolas de samba já
mencionaram a África e fizeram de sua diversidade a inspiração que muitas vezes
foram brindadas com o título de grande campeã do carnaval carioca. Nesta
perspectiva, o carnaval tem plena condição de servir de veículo cultural para a
construção do conhecimento, pois é multifacetário, com uma apresentação de
impacto através da música pela qual o samba enredo permite o conhecimento
temático, com os carros alegóricos que compõem a figuração histórica, assim
como pelo desfile que promove um espetáculo de aproximadamente uma hora e vinte
minutos de duração que permite a exploração de diversos elementos dentro da
temática exposta.
Algunns exemplos podem sinalizar a contribuição do
carnaval dentro do pressuposto de inserção da História Afro-Brasileira no
curriculo oficial da educação. A escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis já
trabalhou enredos como os abaixo citados que serviriam de apoio à educação:
·
Ano
de 1978 – “A criação do mundo na tradição Nagô” enredo no qual o carnavalesco
Joãozinho 30 explora outras formas de explicar a criação do mundo que não se
fundamente na mitologia grega ou na teoria da grande explosão do Big Bang, levando
para o continente africano a responsabilidade de ser a origem do mundo com a
criação dos macroelementos como água, ar, terra e fogo.
·
Ano
de 1988 – “Sou negro, do Egito à Leberdade”.
·
Ano
de 2001 – “A saga de Agotime, Maria Mineira Naê” enredo no qual a comissão de
carnaval explora a violência do sequestro de negros pelos colonizadores com o
fim de traficar escravos para as colônias do novo mundo.
·
Ano
de 2007 – “Áfricas: do berço real à Corte Brasiliana”. Neste enredo, a escola
apresenta a diáspora africana no Brasil e a pluralização de seu nome se remete
à diversidade própria do continente africano.
Outros exemplos similares foram os carnavais do ano de
1994 da escola de samba Acadêmicos do Grande Rio com o enredo “Os santos que a
África não viu”, o carnaval de 2006 da escola Unidos do Porto da Pedra com o
enredo desenvolvido por Milton Cunha de título “Preto e Branco a Cores” no qual
o carnavalesco apresenta o triunfo de Nelson Mandela e toda sua batalha pelo
fim do Apartheid na África do Sul, e por fim, o enredo desenvolvido pela escola
Acadêmicos do Salgueiro em 2007, “Candaces” tratando de mulheres guerreiras
africanas.
Texto fruto do trabalho da disciplina História da África.
Vivian Kosta
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