quinta-feira, 17 de junho de 2010

ESTATUTO INVERTEBRADO



O Estatuto da Igualdade Racial, cujo texto foi aprovado pelo Senado no último dia 16, perdeu sua coluna vertebral afirmou Jacira da Silva, coordenadora do Movimento Negro Unificado (MNU). Isto se deu em função dos reparos que o Estatuto original teve de sofrer para agradar a gregos e troianos.



É preciso ter muita coragem para se falar de cor no Brasil. Os covardes insistem em afirmar que não há mais preconceito e que diante de séculos de miscigenação o país se tornou um país de uma só tribo, uma só raça e uma cor própria.



Iludidos são todos os que acreditam nisso. Para aqueles que estão fora do grupo de risco do preconceito por ter nascidos da cor do colonizador jamais saberão e sentirão o que o preconceito promove ao eu psicológico de quem o sofre.



Aqueles que já se acostumaram a olhares desconfiados, a desaprovação ou a ser chamado de feio por ter feições diferentes sabe muito bem que o fantasma rudimentar da época do Brasil escravista está aí sim e sabemos também o porquê. O homem que assinou a libertação o fez por razões muito mais econômicas e comerciais do que por razões sociais e filosóficas, que deveriam incentivar todo o processo.



O Estatuto recente foi modificado, pois o Estado temeu ser condenado a pagar indenizações por maus tratos seculares, o que não iriam de forma alguma isentar da dor a população que aqui viveu 300 anos de cativeiro tortuoso e vicioso.



O Brasil é racista sim e quem freqüenta programas de auditório bem sabe disso, já que os de cor não podem sentar na primeira fila. Devo ressaltar que ser racista ou não é uma questão de opção, ninguém é pressionado, a pessoa ou instituição simplesmente escolhe.



Eu escolhi por não perceber a cor da pessoa e sim o caráter e foi dessa forma que venho me relacionando, seja profissionalmente ou intimamente, ao longo de minha vida. É fato a cor da pele não constrói o caráter. No âmbito da pesquisa populacional e social, ao qual pertenço, existe um item chamado de perspectiva de cor ou raça e descobriu-se que cor é uma questão de percepção, de autodeclaração. Dessa forma não é quem vê que dita a cor do outro, mas é o indivíduo que autodeclara como se vê, como se sente, como se interpreta.



Sei que nosso país já passou por avanços, como por exemplo, a retirada da perspectiva de cor ou raça da certidão de nascimento e da identidade ou carteira profissional, mas infelizmente, ainda existe muito cartão de vacinação de crianças que contém este item.



No que diz respeito ao conteúdo político do Estatuto vimos ser retirados pontos importantes que constituíam e identificavam o documento, como as políticas de saúde.



Discriminação e disparidades que envolvem preconceito racial formam a questão etnorracial que abomina, que atrapalha e ao mesmo tempo deixa a maioria negra de fora de muitos setores nesse país.



Eu tenho um sonho, o sonho da equidade, o sonho da raça humana se enxergar como igual, de oportunidades iguais e de sonhos reais, mas para realizar esse sonho é preciso que toda uma sociedade e todo um país tenham coragem.


1 comentários:

Berenice Ribeiro disse...

Vivian, vim conhecer e gostei.
Abçs

18 de junho de 2010 às 09:50

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